Como a magia me ajuda a lidar com depressão

A depressão é uma companheira de toda minha vida. Devido a ela, minha existência é cheia de altos e baixos, com períodos de atividade cercados de vales de angústia e nenhuma produção. Produzir, criar, fazer… palavras muito ajustadas ao nosso meio capitalista, que lhe força a ser constantemente ativo, ou padecer de vários juízos. Um cenário desses pode se adaptar a uma prática magística?

Sabemos que a depressão já está se tornando a doença mais comum na humanidade, principalmente em tempos de pandemia. Somos forçados a permanecer em contato conosco, fechados em casa. Várias pesquisas demonstram que o consumo de álcool e outras substâncias aumentou vertiginosamente neste período, o que faz jus à história humana, pois sempre em momentos de dificuldade, a humanidade busca alivio através da alteração de consciência.

Em um cenário desses, a magia é uma grande aliada, mas também severa professora. É sabido que uma das bases da magia é projetar sua Vontade através de um ato, se valendo de intermediários dos planos mais sutis (e isso ocorre quer se tenha consciência ou não). Pra que se consiga afinar melhor com as mensagens dos planos além da matéria, eu preciso me conhecer profundamente. Como separar o joio do trigo se eu não conheço como funciona meu diálogo interno?

Magia é tudo sobre óculos de realidades. Um magista, quando realiza um feito, usa de algum ou vários óculos de realidade, formas de direcionar sua mente que usamos o tempo todo. Quando você interage com seu filho, tem um óculos diferente de quando interage com seu pai. Esta troca de óculos faz parte da vida, e é parte essencial da magia.

Se eu chegar no rito com um óculos de realidade deprimido, com certeza isso irá influenciar em meu ato, então preciso ter foco mental suficiente para deixar as angústias existenciais de lado, pelo menos pelo momento do rito. Essa habilidade de colocar as coisas de lado para focar em um mindset específico é algo que fazemos o dia todo, mas pra magia se torna ímpar. O magista não é aquele amontoado de contas pra pagar e coisas de casa para comprar. Ele é, no momento do ato, um personagem essencial no drama da Criação, co-criando com a Fonte Universal a própria existência. Sem isso, se torna impossível projetar minha Vontade nos planos sutis para que o feito se torne realizado.

Ter uma mediunidade ostensiva com problemas psicológicos costuma ser um desafio. Basta um momento de angústia e você logo não está sozinho, sendo acompanhado por falanges de desencarnados vibrando na sua mesma sintonia. É muito fácil saltar de uma angústia para pensamentos suicidas. Nesses casos, a magia novamente se faz uma grande aliada. É nesta hora que podemos ter a certeza de não estarmos sozinhos, e todo o trabalho realizado para comungar das forças superiores vale a pena.

Eles as vezes vem em sonhos, trazendo as mensagens que preciso, mas as vezes precisam vir em Terra, dando alternativas para resolver as questões. Digo que no fim ser magista significa saber bem com quem você se alia. Tenho aliados muito prestativos e dispostos a me ajudar sem pestanejar em momentos difíceis. Através dos anos, comecei a me entregar cada vez mais para a certeza de que estes mensageiros ocultos estarão lá por mim, e eles sempre estão. Deve ser isso que chamam de fé.

Ser obsediado constantemente te força também a conhecer seu modo de funcionamento interno. Todos temos uma tendência a pensar e sentir de formas específicas. Precisamos conhecer como isso funciona, para inclusive entender o que é um produto de minha mente, e o que é produto de algo além de mim. Isso impede que eu simplesmente enlouqueça em meio a torrente sentimental que as vezes se apossa de mim. E eu sou feito no Santo ainda, o que facilita muito, mas não me deixa imune a estas alterações.

Preciso ser mais esperto e prevenido que o eu de amanhã. Pois amanhã posso estar imerso em depressão, e não ter forças para levantar da cama. Nesse sentido, sempre tenho ferramentas de prontidão, como banhos e defumações a postos, para uma rápida mudança no quadro mental.

Por fim, um dos pilares da magia é o lapidar da pedra bruta interior, o constante exercício de se transformar do chumbo pro ouro. Saber que está alquimia interna leva seu tempo e tem seus processos me acalma. Quantas vezes entrei em buracos emocionais pela sensação de inaptidão… mas pra depois lembrar que é assim mesmo, que a caminhada é cheia de tropeços e deslizes, e que tão importante quanto o destino, é o caminhar.

Seja leve consigo mesmo. Faça podas na sua árvore das relações. Tenha estratégias prontas para lidar com os tombos. Peça ajuda, as forças superiores querem lhe ajudar. Lembre-se: por melhor que tente, seu destino é a morte, então torne seu caminho agradável. Ria de suas falhas, pois o maior nível de aceitação que existe é não se levar a sério.

A magia me ensinou tudo isso, e ainda ensina. Nela me apoio, para continuar subindo essa íngreme montanha chamada vida.

Música: Tocando em Frente, por Almir Sater

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