
Onde estás ó morte?
À espreita dos que estão vivos
Dos que ceifará com um corte
Seco, limpo, sem escolhas, coercitivo
Ao que respira e sonha
Ao que canta e ladra
Ao que não tem vergonha
A todos ela enquadra
Não leva apenas seres
Mas também ideias e amores
Acaba com os prazeres
Arranca apegos, deixa dores.
Amiga morte que nos acompanha
Se achegue e puxe uma cadeira
Beba comigo um vinho, sem manha
Me olhe nos olhos de carpideira
Chore comigo, amiga amada
Me ensine a ceifar meus impulsos
Me dê alento na jornada
Que ganhe força e tenha pulso.
Um trago, um gole, uma gota
De amor próprio me ofereça
A minha dignidade tão rota
Que eu recupere e não padeça
Não te desejo, respeito
Sei que caminha ao meu lado
Carrego seu senso no peito
Ó anjo maldito e alado
Incompreendida és tu
Querida ceifadora sombria
Te amo como ao odu
Bebo meu gole com alegria
Aceito a parte que me cabe
Do que me vem e tenho
Aceito a poda, o fim, sabe?
Ainda que franzindo o cenho.
Obrigado por me aceitar
Por estar comigo na estrada
Ouço apenas seu caminhar
No jardim da vida, calada.
No fim de tudo, é isso!
Somos só nós, não é mesmo?
Desde que respiro, fiz o compromisso
De me encontrar contigo, a esmo.
Aos que se foram brindo!
Ao que deixou de ser,
Celebro nesse dia lindo
O ciclo do nascer-morrer.
🎃 Malone