
Já percebeu quando vai a uma padaria, loja, supermercado, ou locais de atendimento ao público em que é atendido por uma pessoa de uniforme, que se ela sair e voltar outra pessoa pode ser que nem se dê conta de que foi substituída?
Isso é bem comum, pois nosso cérebro está habituado a criar padrões e completar o que está faltando, para poupar energia.
Então se o que importa é comprar o produto, pouco importa quem me atende, eu pago, recebo, e dou lugar ao próximo da fila.
Ocorre que há fases em nossa vida em que esse comportamento reativo é mais frequente do que o necessário, e passamos a ver o uniforme das coisas mais que sua essência.
A atendente possui gostos, se cansa, se irrita, tem uma música preferida, teve uma infância, e se relaciona com pessoas, e tudo isso foi ignorado por uma razão de praticidade. Porém há alguém ali com uma ótima história de vida que foi deixada para trás ao pagar o pão.
A realidade também usa uniformes, se apresenta a nós de formas que nosso cérebro interpreta para economizar energia e poupar esforço, e possui histórias lindas que nos são contadas, mas não percebemos, só pagamos o pão e outro entra na fila.
As plantas, animais, os amigos, as situações, problemas, o dia a dia, nos engolem com uma ordinariedade massiva, de forma que nossa preguiçosa percepção não se dá conta de que estes atendentes foram trocados inúmeras vezes, e que cada um possui uma história importante em nossa vida, mas deixamos passar.
Quem se prende à roupa, à aparência, e perde a essência, está dormente, sonâmbulo, morto vivo para a realidade que ansiosamente espera por seu despertar.
Não, por favor, não quero ficar deitado mais cinco minutinhos.
Malone
Música: Here Comes The Sun, Lorenza Pozza