
“Assim instruído e acreditando com a maior certeza que aquilo que parece pão não é pão, apesar do sabor que tem, mas sim o Corpo de Cristo; e que o que parece vinho não é vinho, apesar de assim parecer ao gosto, mas sim o Sangue de Cristo… tu fortalece o teu coração, comendo aquele pão como coisa espiritual, e alegra a face da tua alma”
(São Cirilo de Jerusalém, Catech. 22, 9: PG 33, 1103).
Os cristãos católicos compreendem que ao elevar as mãos consagradas sobre o pão e o vinho, o sacerdote altera a essência destes e os converte em verdadeira carne e sangue do Cristo e então, ao comerem, estes se integram ao adepto e transformam a essência humana em divina, em uma alquimia sagrada que sacraliza o profano.
A imposição de mãos assim, então, é usada como ferramenta transformadora da substância do adepto em que altera o padrão vibratório de uma frequência mais terrena, elevando-a para níveis celestes.
Da mesma forma que o pão e o vinho não perdem suas essências telúricas, mantém sabor e aparência, em sua essência ganham tonus sagrados e alteram o adepto que também mantém sua aparência e aspectos terrenos, mas ganha uma nova essência celeste, mudando seu padrão vibratório.
No rito cerimonial católico ao terem comido o corpo e sangue divinos os adeptos, estes são então despedidos com o comando sacerdotal “Missa est!”, ou seja, a missão deste se inicia a partir dali. Preparado e alimentado com o que é do alto, estando embaixo, são disponibilizados os elementos para se criar um pilar de equilíbrio entre as forças celestes e telúricas, uma via do meio, em que, estando na imanência, a transcendência acontece e possibilita vermos em questões cotidianas o que há de extraordinário ali.
O que se observa entretanto é que a repetição impensada e irrefletida dos ritos cerimoniais levam os adeptos a não mais se verem como caminhantes de uma senda espiritual, e a rotina retira o que de místico existe, o pão e vinho se tornam fuga de uma realidade terrena tida como impossível de ser transcendida, e as mãos impostas são meramente formalidades para se vencer a hora imposta de duração do rito para se dar continuidade à vida imanente, com falsas transcendências etílica e sociais que não se observam, pensam, e tampouco se entendem.
As bênçãos dadas pelos pais e avós, a mão que é levada ao corpo ao sentir dor, o toque fraterno nas costas para se acalmar são ignorados como ferramentas de tratamento e cura.
Quando nossos desejos por alimento, prazer, riqueza, relações, vida, e demais são saciados, alargamos nosso vaso de receber para o desejo por espiritualidade. Essa busca nos traz de volta ao transcendente. E o ponto de chegada é o mesmo de onde partimos, começamos a observar o que de extraordinário há no ordinário.
A transubstanciação precisa ocorrer dentro, a alteração da matéria de que somos feitos sem perder o sabor, a forma, a essência, ganhando um novo padrão vibratório em que se equilibram o que é de cima e de baixo, dentro e fora, e a terceira via se torna possível, o caminho do meio.
Olhe para as suas mãos e sinta o magnetismo que há nelas, o poder que possui para enxergar o que é especial no comum, a capacidade de abençoar, tocar, curar, com o amor que recebe sem perder nem rejeitar nada do que essencialmente é.
Há muito pão e vinho por aí para se estender as mãos e compreender como sagrados, sendo rejeitados. Foi uma raposa quem disse: “O essencial é invisível aos olhos” (Saint-Exupery, O pequeno príncipe).
Malone