
Música para ouvir durante a leitura: Atalanta Fugiens, Disparition.
O Gamo Rei que caça e busca sua consorte, não compete com ela. Não há competição alguma no jogo. Há complementariedade.
Não há sentido algum em compreender o jogo da sedução como uma competição entre quem é vencedor e vencido, quem fica por cima ou por baixo, quem dá as cartas e quem embaralha, entre quem recebe e quem doa.
A sociedade enquanto patriarcal acabou criando a crença de que o masculino é a evolução, a expansão plena, o polo que promove a amplitude e crescimento. E que para isso seja próspero, que o feminino se diminua, se reduza, se aquiete, se cale, se contenha.
Mulherzinha, sexo frágil, cadela, vaca, cozinha, tanque, burra, loira, bruxa, puta, feia, tronxa, trouxa, iludida, triste, louca, má.
Quantos impropérios serão ditos, o quanto se dirá “cale-se”, “seja” mais ou seja menos, o quanto se ditará o quanto se deve ganhar, ou se exigirá gratuitade e perfeição?
O quanto se baterá, xingará, diminuirá ou reduzirá, se conterá, o feminino para que o masculino seja?
Homens que esperam ver a Deusa perfeita na mulher e que se frustram por verem “só” mulheres, e então descarregam essa frustração de forma a assolar quem ousou não ser tão divina.
Homens que matam e destroem quaisquer resquícios de uma mulher dentro de si para que se sintam plenamente homens e másculos o suficiente para nunca precisarem de uma mulher.
Uma misoginia que se espalha entre homens héteros e homoafetivos, de forma sistêmica e estruturada.
Um dia irão perceber que só poderão ser os homens que desejam ser, apenas e tão somente quando permitirem que essa mulher poderosa e fértil que habita dentro deles nasça e cresça, que se liberte e se solte das amarras opressivas de uma insegurança terrível quanto ao próprio ser homem.
Chega! Basta! Não permita que mais uma mulher sequer morra! Não critique, não julgue, não maltrate, não faça sofrer ou cale a mulher que habita dentro de você.
Seja a mulher plena que habita ai dentro. Se você é homem, somente alcançará sua plenitude quando aceitar sua mulher. Se voce é mulher, não se subjugue e não limite às expectativas dos outros.
Quando permitimos que a mulher dentro de nós seja plena, feliz, fértil e vigorosa, nosso masculino se encontra num ambiente seguro para ser o que nasceu pra ser. Somente somos homens de verdade plenos, quando temos essa mulher integra e feliz, valorizada.
“Mulher”, eu te abençoo, te autorizo a ser quem nasceu pra ser, pinte, borde, seja feliz, desperte a Deusa que habita em mim, e então encontro o “Homem” que sempre desejei ser, o Deus que preciso, e enfim a Criança pode ser resgatada. Ela só nasce com os pais dela juntos e fortes.
Malone

Post Scriptum: Em conversas com leitores e em especial com o Marcelo Menezes, do Jornada do Ser Tarot, penso que seja importante que o que está em cheque não são apenas as mulheres mas a energia feminina em si, mitigada tanto por homens quanto por algumas próprias mulheres, infelizmente. Não se trata de críticas mas de reflexões necessárias para a busca de uma sociedade saudável em que o masculino e feminino se plenificam em complementariedade e não de forma competitiva, maniqueista.