
Paro e me sento, me sinto, me tenho
Estou em repouso, por dentro tormento
Solto o pescoço, os ombros, o cenho
Relaxo as pernas, em recrudescimento.
Os olhos atentos, me foco no agora
Vejo as partes com mira aguçada
Percebo, observo me fixo, ancoro.
Enraizo no hoje, no tudo, e no nada.
Ouço, escuto, agitado penso
Os sons me distraem, o toque, a ravina
A saudade do ontem, do amanhã o senso
Um radar agitado, que rouba e rapina.
Respiro e conto de um a três
Meu peito se infla e a mente alimenta
Contenho e solto o ar em seis
Assim me contento com tal ferramenta.
Esqueço quem sou, serei, ou quem fui.
Me perco nas flores, diluo as dores
Sou nada, vazio, o agora flui
Sou mato, sou galho, sou som, sou as cores.
Contemplo o espaço e então me dou conta
De que o cheio e pleno me obstrui
Assim eu entendo que o oco é que monta
meu palácio mental sem parede conclui.
O caos sem medida se torna meu todo
E então a razão dá lugar ao sentir
Estou vivo ou morto? Não me entrego ao engodo.
Feliz e completo soltando o devir.
A vida se mostra na morte, no oposto
Me torno então um com o nada e o tudo.
Não sinto – eu sou! A brisa no rosto
No vazio completo meu grito é mudo.
Das horas me despi, de cada segundo
Do espaço me desfiz, em cada pedaço
De mim me soltei, quadrado, rotundo
Assim me comprazo e me espedaço.
🧘🏼♂️Malone
Imagem: Arquivo pessoal.
Toda quarta tem sarau no grupo do telegram em t.me/frater_malone