Caminho só no deserto da vida
Firme com meu fraco luminar
As areias que piso caem
Da ampulheta da vida peculiar
Empoeiram minhas mãos os grãos
Gritam e me apressam silentes
Quartzos minúsculos de tempo
Se esvaem nos dedos, insolentes
Só vejo tempo quando há pressa
Aqui o sempre inunda o cenário
O espaço e o agora sou eu
Sem água, oásis ou dromedários
Ao me dar conta do nada recluso
De que ele é o todo do caos
Encontro o buraco da agulha
Um portal ao cavaleiro de paus
No caos não há tempo nem espaço
Nada há que o contenha
Nem colheita nem plantio
Fechadura, segredo ou senha
Só a escuridão da noite eterna
Com alguma estrela a guiar
A esperança de que nesse nada
O todo possa se revelar
Pedir pela aurora que sucede
É demandar o tempo aprisionante
A gaiola do espaço surge
Do medo do caos fascinante
A fuga do sono da vida
Insônia que rejeita a morte
Inescapável a noite aguarda
Pelo descanso sem pressa, forte
Abraço então as areias, poeira
Aceito o tempo, limite, acaso
Os olhos na noite sorrateira
Os pés firmes no deserto raso.
Malone
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