Abandono

O medo da perda, de soltar e de ser solto, de ser abandonado, de estar só. A sensação de que acabou a fonte do amor, do prazer, do sentido da existência. Muitas decisões são tomadas com base nas reverberação desse sentimento ou camada de compreensão. A ideia de não ter um bicho de estimação – “ele irá fugir, morrer, ou não gostar de mim, melhor não ter”. A ideia de não se relacionar – “e se a pessoa não me aceitar como sou? E se não gostar do que penso, pareço, sou? E se ela me trocar por outra pessoa ou situação?” Até as compras que fazemos podem ser ditadas por esse sentimento.

O movimento para ser aceito, por se sentir pertencente, a um grupo, família, amigos, time, partido, clube, gang, turma, classe ou clã. Tudo pelo medo de ser abandonado, pelo medo de não fazer parte, de se estar só, do não.

Será que o “não” que nos impele pelo medo, é quem dá movimento à vida assim? As pessoas que estão conosco vieram pelo sim que elas deram e pelo sim que demos. O emprego ou trabalho que temos veio por um sim mútuo. Os bens que compramos precisou de um sim da operadora do cartão, do banco, seu, do vendedor. Tudo movido e criado pelo sim. Nós nascemos porque alguém disse sim. Uma mãe que mesmo com medo dos nãos da vida, aceitou de alguma forma gerar outra vida.

Você é fruto de um sim! Aceite e diga sim a isso. EU SOU FRUTO DE UM SIM! A cada dia, a cada respirar, a cada batimento do seu coração, há um sim! A vida te aceita a cada movimento do sol, cada mudança de lua, cada passo que dá. Você é movido/a a “sim!”.

Precisamos de alguns nãos. Aquilo que não se encaixa. Aquilo que não é nosso. Esse pede não. Dizer não para o que fere, para o que mata, para o que é do outro e não nosso. Se não está conosco, não é nosso. Se não nos quer, não é nosso. Se já cumpriu o propósito e não tem mais espaço em nossa vida não é nosso. E dizer não a isso, não é abandono, mas sim aceitação. Sim, aceitação de que o lugar certo não é conosco. É onde deve estar. Se ocorreram “nãos” que nos frustraram, entristeceram, e nos fizeram crer que somos inadequados e rejeitados, podemos olhar pra esse “não” de outra forma, como um sim, virar a chave e compreender que o lugar efetivo nosso não era ali. E que dizer sim ao que não se encaixa é um não perene disfarçado de sim, tóxico, abusivo, adoecedor.

Aceitar a própria existência é o maior sim que se pode dar a algo. Dizer sim pra si mesmo. Saber que o melhor lugar do mundo é estar consigo mesmo. Saber deixar ir o que não proporciona isso, é saúde. O pior abandono é o de si mesmo, desistir de ser quem é para ser quem acredita que desejam que seja. Tentar se encaixar no que crê que gostariam que fosse.

Amor, é tudo o que tem para se dar. A maior fonte de amor para si mesmo vem de dentro. Somente quando disser sim a si mesmo/a é que poderá se encher, transbordar. Uma fonte de amor transbordante chama e atrai os sedentos, mas também os transbordantes.

Seja dentro o amor que busca tanto lá fora!

Malone

Música: Raga Pahadi (Fonte do amor), Ustad Usman Khan.

No grupo do telegram em t.me/frater_malone tem mais reflexões sobre esse post.

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